Espetáculo
Kanzuá, nossa casa revela resistência da cultura indígena e negra frente à
colonização com poesia e leveza
Eram povos que não se
conheciam, bastante diferentes entre si: um nativo e outro estrangeiro, que em
comum tiveram a luta pela preservação de sua existência e sua cultura. Esse é o
ponto de partida do espetáculo Kanzuá, “Nossa Casa”, mais nova montagem da encenadora
Fernanda Júlia e montagem de estreia do Aldeia Coletivo Cênico. Provocando em
criadores e espectadores uma reflexão sobre a formação da
identidade cultural do
povo brasileiro, esta investigação cênica revela o encontro das matrizes
indígena e africana numa montagem teatral onde ritual, canto e movimento se integram
para contar nossa história. Com temporada de 9 a 21 de dezembro, de terça a
domingo, às 18h, a peça acontecerá na
Casa Preta (Rua Areal de Cima, nº40, Dois de Julho).
Fernanda
Júlia, que tem na trajetória espetáculos de forte natureza ritual, que
mergulham no universo do candomblé, pela primeira vez, se aproxima da cultura
indígena e a riqueza do seu encontro com as populações afro-brasileiras. De
acordo com a encenadora, “esse encontro gerou estratégias de resistência e de
reexistência de índios e negros na luta contra o colonizador e faz parte das
contribuições civilizatórias que ambos legaram na composição da cultura
brasileira”.
“O
teatro é a arte do encontro, é a possibilidade que temos de nos ver e sermos
vistos. O teatro contribui de forma qualitativa na construção do nosso
imaginário simbólico. Portanto levar ao palco a história do encontro dos donos
da terra os nativos que fomos obrigados a chamar de indígenas e dos negros
africanos de nação banto é de suma importância, pois temos a oportunidade de
contar uma história que não é contada, de contarmos essa história do ponto de
vista daqueles que tiveram a sua cultura destruída, sua história negada”
explica a encenadora.
Fernanda Júlia aposta em Kanzuá como um espetáculo afirmativo de valoração das outras
matrizes culturais que civilizaram o país. Para a criadora, “esta é uma
oportunidade valiosa de validar e divulgar a história dos nossos antepassados,
este espetáculo é mais uma contribuição na luta pela desmitificação das imagens
pejorativas construídas sobre o povo indígena e negro durante séculos. O
caboclo é uma síntese cultural que traduz na minha opinião a verdadeira cara do
povo brasileiro”.
A
partir da provocação do ator Luiz Guimarães, integrante do Aldeia Coletivo
Cênico, a realização do espetáculo Kanzuá
parte da necessidade de contar, numa linguagem contemporânea e na perspectiva
dos caboclos, uma história costumeiramente narrada sob o olhar do homem branco.
Por reconhecer a importância destas matrizes fundadoras na concepção do que
chamamos hoje de Brasil, o grupo de criadores assumiu esta ideia como projeto
artístico de estreia. De acordo com Luiz, “falar do caboclo é falar sobre nós, sobre
nossa história, de tudo que é mais brasileiro, é falar da raiz mais profunda e
esquecida.”
Para
o artista, “Kanzuá elucida uma parte
da história que não foi contada, uma vitória que não foi registrada, mas que
está em nós... nos olhos, no cabelo, na pele. Falar sobre os caboclos é dar voz
ao índio, ao negro banto, ao sertanejo, as rezadeiras, benzedeiras,
parteiras... é dar voz ao encanto”.
Com
dramaturgia de Daniel Arcades, o espetáculo reúne os atores Denise Correia,
Luiz Guimarães, Mariana Damásio, Thiago Romero e conta com direção musical de
Jarbas Bittencourt e trilha sonora original de Roquildes Junior e Sanara Rocha.
A música tem papel fundamental na montagem, envolvendo o público no ambiente
ritual e rítmico do espetáculo, trazendo uma sonoridade que reflete a mistura
entre os povos.
Com
corpo e movimento extremamente presentes, Kanzuá
tem coreografias assinadas por Zebrinha. A ambientação cercada de verde,
plantas e cheiros da natureza explora as possibilidades do lugar, com concepção
de cenário, figurino e maquiagem de Thiago Romero. A iluminação fica por conta
de Luiz Guimarães, que quer explorar as nuances do entardecer – daí a escolha
do horário das apresentações, às 18h.
Este
projeto foi contemplado no Edital Setorial de Teatro 2012 / Fundo de Cultura do
Estado da Bahia.
Aldeia Coletivo Cênico
Do
desejo de provocar reflexão, questionamento, descoberta ou encontro, construção
e constituição da identidade, seja ela pessoal, profissional, artística, social
ou histórica emerge o Aldeia Coletivo Cênico. O grupo de artistas observa o
humano através do seu corpo embebido de consciência, materialidade de sua
identidade, corpo com marcas, sensações e cicatrizes, corpo constituído de
memória muitas vezes invisível ao próprio individuo. Para isso, pesquisa a
relação cíclica, ator platéia e a utilização do corpo como agente disparador e
condutor ritualístico. O coletivo tem como princípio fortalecer a figura do
ator-atriz, enquanto propositor e gestor de um discurso, levando em
consideração o individuo, o espaço e sua historia. Faz parte do trabalho a
utilização de momentos de troca-aprendizagem e instrumentalização do artista,
possibilitando ao ator-atriz contato e experiências práticas com outras
ferramentas do espetáculo, como iluminação, produção, direção, cenotecnia,
dramaturgia, entre outras.
Ø SERVIÇO:
Espetáculo Kanzuá "Nossa Casa"De 09 a 21 de dezembro, às 18h
Casa Preta
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Censura: 14 anos
Ø FICHA
TÉCNICA:
Direção: Fernanda JúliaDramaturgia: Daniel Arcades
Elenco: Denise Correia, Luiz Guimarães, Mariana Damásio, Thiago Romero
Assistência de Direção: Sanara Rocha
Composição de trilha sonora original: Roquildes Junior e Sanara Rocha
Direção Musical: Jarbas Bittencourt
Músicos: Anderson Danttas, Roquildes Junior, Sanara Rocha
Coreografia: Zebrinha
Assistência de Coreografia: Arismar Adote Jr.
Figurino, Maquiagem e Cenário: Thiago Romero
Iluminação: Luiz Guimarães
Preparação Corporal: Nara Couto
Preparação Vocal: Donna Liu
Iniciação à Percussão: Ricardo Costa
Produção Executiva: Luiz Antônio Sena Jr.
Assistência de Produção: Ana Paula Carneiro
Assessoria de Comunicação: Crioula Mobilização Social (Mônica Santana)
Design Gráfico: Thiago Romero
Fotografia: Andréa Magnoni
Vídeo: Bob Nunes
Realização: Aldeia Coletivo Cênico
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